O tema deste artigo, a pergunta em sí, de forma muito natural já nos dá uma resposta imediata em mente: PRESERVAR.
Mas, no Brasil, esta escolha está longe de ser dirigida pela lógica e pela coerência.
O acidente da Vale em Brumadinho deverá originar as maiores multas ambientais já aplicadas a uma empresa no país, sem contar os processos movidos pelas famílias das vítimas, por empresas que tiveram suas atividades prejudicadas, e outros interessados que ainda esperam pelo momento oportuno de aparecer com suas reivindicações.
Assim, dificilmente o prejuízo estará abaixo da casa do bilhão.
E a empresa optou por correr o risco. Optou por gastar.
https://exame.abril.com.br/negocios/ibama-multa-vale-em-r-250-milhoes-por-tragedia-em-brumadinho/
E como isso poderia ter sido evitado? Qual o custo da preservação?
De modo mais básico, sem pensar na mudança do tipo de barragem instalada (como já sugerido por alguns órgãos e veículos técnicos), podemos avaliar que faltou entre tantas coisas:
- Fiscalização mais rigorosa da estabilidade da barragem (que poderia ser uma força tarefa independente, sugerida pelo governo federal ou de Minas Gerais após Mariana/2015);
- Cenários simulados para situações que envolvessem funcionários e população local, com acionamento de alarmes e sirenes, uso de veículos, contagem de tempo para desmobilização, etc;
- Cálculos de dispersão da lama e projeção de contenções auxiliares, para retardar o avanço dos rejeitos e conseguir mais tempo para mobilizar a população;
- Treinamentos sobre riscos e sobre comunicação de acidentes.
É possível imaginar que os itens supracitados não consumiriam 50% do valor do acidente, mesmo em 04 anos (pensando em ações pós Mariana/MG de 2015), o que só evidencia a falta de valor que a Vale e outras empresas dão a vida, e até a falta de fé nos seus próprios recursos humanos.
A imagem que fica é que o ganho do dinheiro vale o risco.
Ou pior, a certeza insana de que o acidente nunca vai acontecer. Insanidade. Insensatez.
Empresas não podem se esconder atrás do cumprimento da legislação para fugir de suas responsabilidades.
A legislação deve ser considerada como um documento vivo, que deve ser alterado conforme as mudanças sociais e trabalhistas de um povo fazem forma, mas que eventualmente não contemplam todas as restrições e deveres necessários.
Nestes casos, a empresa precisa zelar pelo interesse público, e isso precisa estar claro para quem oferece tantos riscos como quem exerce atividades como as da Vale.
No fim das contas, somadas e divididas para empresas e pessoas, dinheiro para remediar nunca será suficiente para pagar o estrago do prejuízo de Brumadinho.
Talvez os acionistas da Vale precisem repensar suas planilhas de custos.