Em uma conversa com um antigo chefe, refletíamos sobre os impactos da imagem do Brasil em função da gestão de suas crises ambientais sobre a economia.
“O mundo não pode pensar que somos malucos derrubadores de árvores”, ele disse.
É uma verdade que o ministro da economia está tendo mais dificuldades para por em prática seus planos em função dos problemas ambientais nacionais.
As ações desconexas entre alguns pilares da administração federal diminuem as chances de melhor desenvolvimento para o país.
Mas acreditar que a economia nada tem a ver com o meio ambiente é tão retrógrado quanto não entender a ligação entre qualidade de vida e produtividade.
E embora seja algo tão cristalino, uma série de fatos ocorridos desde o início de 2019 mostram que o governo não enxerga essa ligação e não acredita na interferência de uma área na outra.
A Saber
- Desconstrução do IBAMA e ICMbio: Ambos os órgãos perderam autonomia de suas tarefas e área de gestão, principalmente o IBAMA que agora está sob supervisão do exército.
Quantidade de multas e infrações aplicadas pelo órgão caiu 54% em relação ao mesmo período em 2019, e é o menor número aplicado nos últimos 25 anos.
- Redução das multas por crimes ambientais: Não apenas caiu drasticamente o número de multas aplicadas a crimes ambientais, como citamos no parágrafo acima, como fica claro uma institucionalização desta prática por meio da criação de um “núcleo de conciliação”, que poderá mudar o valor ou até mesmo anular multas por crimes ambientais.
- Falta de credibilidade dos dados oficiais de desmatamento: O sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que permite diagnóstico de áreas desmatadas vem sendo colocado sob suspeita com diversas correções em números oficiais divulgados. O ápice desta questão foi a demissão do diretor do Instituto ao ser confrontado tecnicamente.
- Regularização fundiária via autodeclaração: Permite a grileiros a legalização de terras apropriadas ilegalmente.
- Liberação excessiva de agrotóxicos: Permissão de venda de agrotóxicos antes proibidos, alguns destes com proibição de comercialização existentes há mais de 30 anos na Europa e América do Norte.
- Revisão de tributos ambientais aplicados a empresas que causam alto e negativo impacto ambiental: Empresas que impactam de forma considerável o meio ambiente com suas atividades tem conseguido reduzir tributos e outras taxas sem nenhum tipo de comprometimento com melhorias ao meio ambiente e/ou sociedade.
- Ministro de Meio Ambiente de viés negacionista: escolha de um ministro que, além de já ter sido condenado por crime ambiental, não considera para sua prática de trabalho a temática do aquecimento global, e que defende os interesses do agronegócio em detrimento dos ambientais.
- Revisão da CONAMA 398/08 esquecida: A principal legislação que condiciona a resposta a incidentes ambientais por hidrocarbonetos, que estava em vias de revisão antes do fim do governo Temer foi esquecida e sequer teve qualquer reunião para seguir com as revisões necessárias.
Conclusão
Levando em consideração estes fatos e tantos outros de repercussão constrangedora (como a não anuência ao acordo de Paris) é possível dizer que andamos na contramão do planeta.
Talvez os derrubadores de árvore que falamos no início do artigo estejam exatamente em Brasília, criando a imagem de que não há nada de errado acontecendo, reclamando dos que enxergam o problema, vivendo sob a ideia de que os problemas do país, quaisquer que sejam, serão corrigidos a reboque de uma melhor situação econômica.
Irônico notar que a economia que se deseja fazer brilhar dependa hoje tanto de uma melhora da imagem ambiental do país.
Então, para isso tudo acontecer, seria bom mandar os derrubadores de árvore para casa, não?